A região da atual cidade de Curitiba, teve como seus primeiros habitantes os índios Jês e os Tupis-Guaranis, sendo estes últimos, segundo Chmyz (1995, p. 42), os que tiveram contato direto com os portugueses que apareceram na região a procura de ouro por volta do século XVI. As primeiras cidades fundadas no Paraná foram as litorâneas; Curitiba surge de um povoado existente às margens do rio Atuba, o qual posteriormente será alterado para a região entre os rios Ivo e Belém onde, em 29 de março de 1693, é fundada a Vila de Nossa Senhora da Luz e do Bom Jesus dos Pinhais de Curitiba.
Após sua fundação, a cidade não evolui de forma rápida e dinâmica; pelo contrário, sua expansão e crescimento foram tímidos. Como comarca de São Paulo, Curitiba começa a se destacar principalmente pelas suas economias: a erva-mate e o transporte do gado realizado pelas tropas. Devido a sua localização geográfica, a cidade era considerada um dos pontos de comercialização da erva-mate; sendo que, com a inauguração da estrada de ferro Curitiba – Paranaguá se "[...] marcou um ponto de inflexão no desenvolvimento econômico do Paraná. Por muitas décadas se constituiu no principal corredor de exportação da produção paranaense" (MENEZES, 1996, p. 57).
Menezes também destaca que em 1853 houve uma primeira tentativa de planejamento urbano de Curitiba, a qual tinha como fim a colocação da cidade como um espaço urbano moderno e apto a ser designada capital do estado; a cidade competia com Paranaguá para ser a sede administrativa do Paraná. Os primeiros mapas do centro de Curitiba datam de 1863 (figura 1), onde se observa os primeiros traçados da cidade os quais serão modificados por Pierre Taulois nos anos seguintes. Este urbanista, foi o responsável pela primeira transformação urbana de Curitiba com a realização do denominado "Plano Taulois". O documento, mesmo não sendo considerado um verdadeiro plano urbanístico, foi o marco inicial das ações de controle e delimitação de ruas, as quais seriam aprofundadas com o Plano Agache e o Plano Serete de 1943 e 1966, respectivamente.
Figura 1 – Planta de Curitiba 1863. Fonte: IPEA; USP; IPPUC, 2001.
Logo após a definição de Curitiba como capital do estado, uma das primeiras ações do novo governo foi o incentivo à migração de colonos de outros países. Italianos, poloneses, ucranianos, alemães, entre outros, povoaram a cidade a partir do ano de 1872; estes fizeram do Brasil sua nova pátria e da cidade sua nova moradia.
Inicialmente os maiores contingentes foram de alemães, poloneses e italianos, seguidos de um menor número de ucranianos, franceses, ingleses e austríacos entre outros. [...] Calcula-se que aproximadamente 30 mil imigrantes chegaram a Curitiba entre 1872 e 1900 e cerca de 27 mil entre 1900 e 1920. (MENEZES, 1996, p. 58).
A evolução urbana da cidade foi marcada pelo aumento da sua região de abrangência, expansão territorial e, ao mesmo tempo, pelo aumento populacional gerando ao final do século XIX um crescimento desestruturado de Curitiba. É interessante ressaltar que, mesmo com a expansão territorial da cidade, o centro urbano da capital mantinha o padrão dos primeiros traçados do Plano Taulois. Em 1894 a cidade de Curitiba já apresentava um considerável aumento no centro da sua localidade (figura 2).
Figura 2 – Planta de Curitiba 1894. Fonte: IPEA; USP; IPPUC, 2001.
Logo, tornar-se-ia Curitiba uma cidade de imigrantes, a qual continuaria a crescer impulsionada pela ligação ferroviária com o litoral, o que lhe g arantiria uma sintonia permanente com as novidades dos grandes centros nacionais e internacionais. Este desenvolvimento incentivou a formação dos primeiros hotéis nas proximidades da Estação Ferroviária (figura 3 e 4).
Figura 3 – Hotel Roma, Hotel Tassi e a Estação Ferroviária Fonte: Cartão postal circulado na decada de 1920. Acervo Leonardo T. Oba.
Figura 4 – Grande Hotel na Rua XV com Rua da Liberdade em 1908 Fonte: Gazeta do Povo – 25/05/1997
Ao término da década de 1930, as indústrias instaladas na capital e o crescimento populacional, resultado das imigrações promovidas no século XIX, foram motivos suficientes para sua reestruturação urbana. A figura 5 apresenta o adensamento urbano que Curitiba experimentou ao final daqueles anos.
Figura 5 – Planta de Curitiba 1937. Fonte: DUARTE; GUINSKI, 2002.
No ano de 1943, surge o Plano Agache, plano diretor urbano desenvolvido pela empresa Coimbra Bueno & Cia. Ltda. do Rio de Janeiro, o qual passa a organizar e estruturar a cidade através de "[...] diretrizes e normas técnicas para ordenar o crescimento físico, urbano e espacial da cidade, disciplinando o tráfego e organizando as funções urbanas.[...]" (IPEA; USP; IPPUC, 2001, p. 88). Os critérios adotados para formatação do plano diretor da cidade recaíram na delimitação de áreas com funções específicas ("centros funcionais"). A região industrial, a universitária, a destinada aos esportes, a região do comércio e abastecimento, a localidade administrativa onde já foi delimitada a região do atual Centro Cívico e ainda os locais de lazer e recreação (Ibid.). Com a delimitação do plano, Curitiba inicia um processo de gestão do meio urbano, baseado no zoneamento da cidade, outorgando funções específicas a cada bairro ou localidade existente, definindo ainda, uma expansão da malha urbana de forma eqüitativa e organizada.
A continuação desta estruturação dá-se na publicação do Plano Serete, resultado de um concurso público organizado pela Prefeitura Municipal de Curitiba, o qual tem como objetivo dar continuidade ao planejamento urbano da cidade, considerando o grande crescimento populacional que a mesma enfrentou naquelas décadas: "Entre 1940 e 1960, a população de Curitiba passou de 140 mil para mais de 350 mil habitantes. [...]"(IPEA; USP; IPPUC, 2001, p. 89). Na década de 1960, foram criados a URBS – Companhia de Urbanização de Curitiba, o IPPUC – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba e a COHAB – Companhia de Habitação Popular de Curitiba. A partir daí, a capital paranaense passa a dar grande importância a sua estruturação viária, valorizada através do sistema de transporte urbano. A preservação e manutenção de áreas verdes em Curitiba tornaram-se marca registrada do novo modelo de gestão urbana da cidade, ação já conhecida desde as primeiras medidas administrativas, inclusive no Plano Taulois.
Figura 6 – Áreas de preservação da cidade de Curitiba Fonte: Cidade de Curitiba, s. d.
O desenvolvimento urbano de Curitiba continuou, o setor histórico passou por reformas estruturais e paisagísticas, valorizando sua arquitetura e a memória que carrega dentre seus espaços. Em 1985, a cidade ganho seu PMDU – Plano Municipal de Desenvolvimento Urbano, onde foram definidos novos rumos para o gerenciamento e a administração do meio urbano curitibano. Um ano depois, Curitiba ganha oito administrações regionais: Freguesia da Matriz, Cajurú, Bacacheri, Santa Felicidade, Campo Comprido, Pinheirinho, Umbará e a da região do Boqueirão, estas ações mostrariam o novo modelo descentralizador da gestão urbana que a cidade instituiria a partir dos anos de 1990.
Na última década as mudanças realizadas na cidade são perceptíveis aos residentes e aos visitantes que passam por Curitiba. Intervenções nas áreas de infra-estrutura e organização das ocupações irregulares são medidas tomadas pela nova gestão municipal. Vazios urbanos localizados nos bairros da cidade, assim como extensões de áreas verdes, próximas dos rios que cortam ou fazem o limite geográfico da cidade, são equipados como novos espaços de lazer e visitação:
No rio Passaúna, onde o governo do Estado faz uma represa para abastecimento de água, a Prefeitura cria novo parque com 6.500.000 metros quadrados. O número de bosques também cresce. [...] A antiga pedreira da Prefeitura no Pilarzinho é transformada num teatro natural, para apresentações de espetáculos musicais ao ar livre, e recebe o nome de Paulo Leminski [...] Ao lado da pedreira, o prefeito ergue um teatro de vidro e metal, com projeto em estilo art nouveau: a Ópera de Arame. (DUARTE; GUINSKI, 2002, p. 227-228).
Figura 7 – Parque Passauna de Curitiba Fonte: Site Curitiba-parana.net, 2011
Figura 8 – Opera de Arame de Curitiba Fonte: Site Tiptoptens.com, 2011
Novas transformações e adaptações ao espaço urbano serão realizadas de acordo com a demanda que a cidade apresente nas próximas décadas. Em 2004, a Prefeitura aprovou a Lei Municipal nº 11.266, a qual dispõe sobre a adequação do plano diretor de Curitiba ao Estatuto da Cidade – Lei Federal nº 10.257/01, sendo que: "Art. 2º. Esta lei complementa as diretrizes estabelecidas no Plano Preliminar de Urbanismo e no Plano Diretor de Curitiba, instituído pela Lei nº 2828, de 10 de agosto de 1.966, [...]" (CURITIBA, 2006). O planejamento continuo e estruturado da cidade de Curitiba reflete-se na aparente estruturação da sua legislação urbana.
Extrato adaptado e retirado de:
RAMÍREZ TORRES, Nicolás Jesús. Gestão do patrimônio histórico e desenvolvimento urbano sustentável: políticas públicas para o incremento do turismo em Curitiba. 2007. 147 f. Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2007. Disponível: http://goo.gl/ux8ms
Referências:
CHMYZ, Igor. Arqueologia de Curitiba. In: FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Boletim Informativo da Casa Romário Martins. Curitiba: origens, fundação, nome. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, v. 21, n. 105, jun. 1995. 280 p.
IPEA, USP, IPPUC. Gestão do uso do solo e disfunções do crescimento urbano: instrumentos de planejamento e gestão urbana: Curitiba. Brasília: IPEA, 2001. 288 p.
MENEZES Claudino Luiz. Desenvolvimento urbano e meio ambiente: a experiência de Curitiba. 2. ed. Campinas: Papirus, 2001. 198 p.