domingo, 8 de março de 2015

Rua da Lyberdade (atual Barão do Rio Branco). Data: 1892. Foto: Adolf Volk. Acervo: Cid Destefani/FCC-Casa da Memória. Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia (14/01/1990)



À esquerda o barracão da garagem de bondes movidos à tração animal, de Boaventura Clapp que depois pertenceria a Santiago Colle e também sediaria a empresa de bondes elétricos. Ao fundo a estação ferroviária, à época, com apenas um andar. 

À direita, a Assembléia Legislativa, também conhecida como Congresso Estadual (Palácio do Congresso), projetada e construída pelo engenheiro Ernesto Guaita entre 1891 e 1895. 

Seu nome foi alterado em 1912 para Palácio Rio Branco em decorrência da morte do barão. O prédio se tornou a sede da Câmara Municipal de Curitiba em 1963, quando a Assembléia foi transferida para o Centro Cívico.

Em 1885, cinco anos antes do início das obras do prédio, Guaita já era o responsável pela urbanização da Rua da Lyberdade, que foi usada como eixo para que ele desenhasse uma "malha xadrez" de quadras que se estendiam para o sul, num plano de ampliação da cidade que ficou conhecido como "Nova Curitiba".








Simulação do Plano Guaita (Nova Coritiba)
Mapa base: Google (2010) / com intervenção gráfica de Analu Cadore (2010)


Figura 59 (pág. 99) da dissertação A produção arquitetônica de Ernesto Guaita em Curitiba, de Analu Cadore. Mestrado em Urbanismo, História e Aruitetura da Cidade (UFSC, 2010)





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Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia, (Cid Destefani, 14/01/1990)
Rua da Lyberdade - Observações minhas entre parênteses.

"Esta página, que há sete meses vem sendo publicada dominicalmente na nossa Gazeta do Povo nos leva qual máquina do tempo, às mais diversas paisagens e épocas de Curitiba e de outras localidades do Paraná. Hoje mergulhamos no passado remoto de uma das mais tradicionais ruas de nossa velha Curitiba: a Barão do Rio branco, quando ainda era chamada Rua da Lyberdade. 

A razão de sua existência deve-se à instalação dos trilhos da estrada de ferro Curitiba-Paranaguá. Em 1884, um ano antes da inauguração dessa monumental obra a rua foi aberta. (Observação: como uma continuação da Travessa Leitner, que se originava no cruzamento entre a Riachuelo e a Rua XV). Sua primeira denominação foi Rua da Estação, passando em seguida a chamar-se Rua Dr. Trajano, nome que teve pouca duração e foi substituído por Rua da Lyberdade. Dois dias após o falecimento do chanceler José Maria da Silva Paranhos, no dia 10 de fevereiro de 1912, a prefeitura de Curitiba rebatizava aquela via com o nome de Rua Barão do Rio Branco. (Observação: a sede da Assembléia Legislativa, que era conhecida como Palácio do Congresso também mudou para Palácio Rio Branco). 

A fotografia acima, feita por Adolf Volk em 1892 nos mostra a Rua da Lyberdade ainda no seu início de vida. Em 1887, Boaventura Clapp construiu e inaugurou as linhas de bondes de mulas em Curitiba, sendo a Estação Central destes veículos o barracão que aparece à esquerda da fotografia. Mais tarde a Cia. Ferro Carril Curitibana, ou seja, os bondinhos tracionados a mulas foi adquirida por Santiago Colle, que tocou o empreendimento até 1912, quando foi preparada a substituição dos bondinhos de tração animal pelos elétricos, fato acontecido em 1913.

(...)













Cartão Postal: Rua da Lyberdade, 1907


Outro fato importante aparece na foto gravada por Volk. A instalação dos primeiros postes para a luz elétrica, benefício introduzido em Curitiba justamente em 1892. (Observação: uma pequena usina termoelétrica foi inaugurada naquele mesmo ano nos fundos do Palácio do Congresso, numa área que pertenceu posteriormente à COPEL e hoje abriga setores da Câmara Municipal). 

À direita vemos o prédio do Congresso Estadual (Palácio do Congresso), hoje Câmara Municipal, já em fase final de acabamento. Este edifício foi projetado pelo engenheiro italiano radicado em Curitiba Ernesto Guaita. (Observação: o prédio fora inaugurado um ano antes pelo 1º governador eleito do estado, Generoso Marques. Registros do seu uso efetivo só se dão entre 1894 e 1895, mas não consta que o prédio tenha sido oficialmente reinaugurado. Entre os primeiros discursos feitos no novo prédio do Congresso Estadual, destaque para as defesas de Vicente Machado quanto às acusações de ser o mandante da morte do Barão do Serro Azul, no quilômetro 65 da Estrada de Ferro. O prédio é a mais neoclássica das contribuições arquitetônicas de Guaita. Foi projetado com o objetivo de ser um prédio público e isso pode ser observado na monumentalidade da fachada composta pelo conjunto escadaria, vestíbulo externo com colunas e frontão retangular). 










Cartão Postal






Lá no fundo aparece a razão da existência da rua: a estação da estrada de ferro ainda com um único andar, aspecto arquitetônico que conservou até 1896 quando foi remodelada para a aparência que mantém até hoje. A velha estação é o símbolo do progresso que a cidade viveu à época. A estrada de ferro veio causar mudanças radicais no aspecto físico e nos costumes da cidade. Foi um dos seus engenheiros, Giovanni Lazzarini quem construiu o Passeio Público. Ele também auxiliou durante um bom tempo a construção da catedral. 






Vista parcial de Curitiba em direção ao Sul no ano de 1893. Em destaque vemos o prédio da atual Câmara Municipal em fase de acabamento. Foto de Adolfo Volk (Gazeta do Povo, Nostalgia, 04/11/2012)




(Observação: Ambas as obras tiveram também a participação de Guaita. Segundo o arquiteto e historiador João de Mio, em 1886 Ernesto Guaita teria uma relação bastante próxima com o presidente da província Alfredo Taunay e também com Francisco Fasce Fontana, ervateiro que bancou inicialmente o Passeio Público. Guaita e sua equipe de italianos residentes no Bigorrilho teriam sido os responsáveis pela primeira intervenção no banhado que depois viria a ser o Passeio Público. A afirmação consta numa carta enviada por João de Mio à Câmara em 1964, por ocasião da aprovação do projeto que nominava um logradouro como Ernesto Guaita. A catedral também contou em suas obras com a direção temporária de Guaita, que se afastou em meio a uma polêmica com o engenheiro Rodolpho Pao-Brazil)

Famosas hospedarias surgiram nesta época, como Hotel Roma, Hotel Tassi e Grande Hotel. O curitibano começou a cobrir suas casas com as telhas tipo “francesas”, que um esperto oleiro de então copiou das que foram usadas para a cobertura da estação. (Observação: Há registros de que Guaita, que era dono de duas olarias no Bigorrilho, teve de substituir as telhas do Congresso pouco tempo depois da entrega final do prédio, em 1895).

Noventa e oito anos (Obs.: hoje, 122) nos separam dessa imagem da Rua da Lyberdade. É de se ficar imaginando: quanta gente passou por ali. Quantos fatos importantes na vida de Curitiba tiveram esta rua como palco. Não deixa de ser um bom exercício de memória e tendo alguma dúvida, pergunte aos mais antigos".















Desenho do Palácio do Congresso feito pelo poeta e artista gráfico Silveira Netto. Publicado na revista "A Arte", n. 5, de 15 de abril de 1895, editada pela Escola de Artes e Indústrias do Paraná. Vê-se ao fundo a chaminé da primeira usina termoelétrica que gerava luz para Curitiba (Foto – Hemeroteca Digital Brasileira – Biblioteca Nacional)


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Textos meus para o site da Câmara Municipal de Curitiba sobre a construção do Palácio Rio Branco e sobre seu projetista e construtor, o engenheiro italiano Ernesto Guaita.

Um comentário:

  1. Agradeço se vc mencionar o blog Curitiba naqueles idos. Valeu, obrigado.

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