domingo, 16 de novembro de 2014

A primeira motorista de ônibus de Pinhais

Pinhais também se fez com os trabalhadores nas mais diversas atividades, bem como aqueles que trabalham com transporte e atendimento ao público. A primeira motorista de ônibus de Pinhais é Maria Isabel de Castro, que nasceu em 18 de outubro de 1937 e é da família dos Bimba, seu pai é Pedro Pinto de Castro.
Ela veio para a região quando tinha 13 anos e mora há quase 40 anos na casa no bairro Centro, onde forneceu a entrevista para a equipe. “A gente tinha o ônibus, que foi o primeiro que fez a linha Curitiba-Piraquara, era a Autoviação São Pedro. Era do meu pai, e nós abrimos a linha também, porque não havia nada nessa região”, comenta.
Maria Isabel chegou a dirigir o carro logo quando a linha começou a se constituir. A família morava onde é o Itaú atualmente. “Eu nasci em Piraquara e quando eu tinha 18 anos começou a linha, então eu tirei carteira e comecei a dirigir”, lembra.
Para tirar carteira antigamente, se aprendia a dirigir e só depois se fazia o teste. “Aprendia a dirigir por conta, em casa. Não era tão rigoroso quanto agora. A minha era transporte de cargas e passageiros a D, chamava-se a carteira profissional”, diz.
Naquela época, não era preciso ter uma empresa de transporte, como é hoje em dia. “Meu pai apenas comprou o ônibus e abriu a linha. Passava as seis da manhã, meio dia e seis da tarde. Nós tivemos dois ônibus, só depois é que aumentou. A Expresso Azul só comprou bem depois”, relata.
Maria sempre ia dirigir acompanhada de seu pai. “Sabe como é, eu era mulher e nova, então meu pai não ia soltar um ônibus assim na minha mão,  e com passageiro. Então um pouco a gente dirigia, um pouco a gente cobrava. Além de nós dois, tinha ainda um motorista, mas a maior parte era a gente que fazia”, completa Maria.
Maria Isabel, uma amiga e o pai em frente ao ônibus do "Bimba"
Antes do ônibus só havia o trem. “Quando a gente fazia Curitiba-Piraquara, tinha que parar lá em uma casa, em Piraquara. Mas era tudo muito precário, e meu pai não conseguiu manter a empresa dele. Ele queria as coisas do jeito dele. E tínhamos que trabalhar muito para sobreviver. Chegou uma hora que ele não conseguiu mais manter a empresa, não conseguiu acompanhar o desenvolvimento. Como ele não queria se associar a ninguém, decidiu vender a empresa”, conta.
Ela relata que eles utilizavam a estrada do encanamento. “Havia uma porteira ali embaixo, aonde hoje tem uma casa da Sanepar. Sempre tínhamos que abrir essa porteira, a estrada era muito ruim. As vezes o ônibus encalhava e tínhamos que rebocar. Depois a empresa começou a crescer, havia mais funcionários, e o ônibus já estava sucateado, nós não tínhamos como comprar novos. O dinheiro que entrava mal dava para manter a família”, relembra Maria.
Ela destaca algumas diferenças de como é atualmente e como funcionava na sua época. “Fico com raiva desses ônibus que deixam a gente no ponto. Naquele tempo, eu sempre brinco, a gente quase batia na porta das pessoas perguntando se iam para Curitiba. Claro que não fazíamos isso. É que não tinha quase ninguém, e poucos usavam ônibus. Iam de carroça, especialmente os colonos que levavam a produção”, relembra.
“No nosso ônibus andava galinha, cachorro, tudo que tivesse que levar a gente ia levando, não tinha regras. Era do meu pai apenas, não tinha nenhum apoio da prefeitura”, diz.
Carteira de motorista de Maria Isabel
Maria conta que até hoje dirige e que tem carro próprio, mas ela teve catarata. “O Detran cassou minha carteira porque eu não enxerguei as letrinhas no teste. Eu fiquei cinco anos com carro e tendo que pedir pra alguém me levar para os lugares”, conta Maria.
Desde então ela continuou lutando contra a doença, consultou um oftalmologista e realizou exames. “Ele me receitou um óculos e então consegui passar e estou dirigindo novamente. A minha continua sendo carteira profissional, a D, e tenho que renovar de três em três anos”, comemora. Ela conta que nunca bateu um veículo, só uma vez que bateram no seu carro quando ela estava estacionada próximo a sua casa.
Texto: Danielle Mei
Colaboração: Stela Piardi e Ana Paula Melo
Fonte: entrevista concedida por Maria Isabel de Castro ao Projeto Identidade Pinhais no dia 05 de agosto de 2010
http://idpinhais.wordpress.com/page/4/

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