Hospital Evangélico completa 50 anos hoje: construção conta um pouco da história de Curitiba
Dificilmente os moradores mais jovens de Curitiba sabem desta história: há 50 anos, no bairro Bigorrilho, brilhava uma estrela diferente daquela que as pessoas estão acostumadas a ver. Ela era de concreto e tinha como missão dar suporte aos carentes que precisavam de atendimento médico. Foi o pontapé inicial para a criação do hospital que hoje é conhecido como Evangélico. É verdade que da estrela sobram apenas alguns vestígios. Mas as fotos estão aí para provar que a obra chamava muito a atenção.
O projeto de construção do hospital foi importado dos Estados Unidos: a ideia era transformar cada uma das cinco pontas da estrela em uma ala de tratamento médico, totalizando 90 leitos. O problema é que dez anos após a inauguração do hospital, foi criada a Faculdade Evangélica de Medicina: para que o curso funcionasse, os alunos precisavam de um hospital escola com mais leitos. A estrela do Bigorrilho, então, começou a perder a sua forma.
A solução encontrada foi construir um prédio em cima do outro. Os espaços vazios entre as pontas da estrela foram usados e ganharam paredes de concreto e mais 310 leitos: os dois edifícios, construídos um em cima do outro, inicialmente, não se comunicavam. Só mais tarde eles foram integrados. Hoje, restam apenas as pontas do pentágono, que ainda podem ser vistas no Hospital Evangélico.
Primeiro paciente
O curioso, na época, é que o hospital ficava em uma região inóspita de Curitiba. Estava localizado em cima de um morro com estradas de chão batido, por isso as pessoas sofriam para chegar ao local. No dia da inauguração, choveu tanto que alguns carros atolaram. O prefeito, general Iberê de Mattos, conseguiu subir com o carro, porém sofreu um pequeno acidente que fez com que ele se tornasse o primeiro paciente do Evangélico. Quando Iberê foi descer do veículo, seu dedo ficou preso na porta.
O projeto do hospital mobilizou a cidade inteira, porque foi construído com doações. Um bolo no formato da maquete do prédio foi assado e ficou um dia inteiro em exposição nas Livrarias Ghig*none, na Rua XV de Novembro. Foi feita uma rifa do bolo para arrecadar dinheiro. O vencedor foi um estudante universitário que, na época, morava na Casa do Jovem Batista Paranaense. Ele e todos os estudantes da república comeram o bolo durante uma semana. De**talhe: o sortudo, André Zacharow, 30 anos depois se tornou presidente da Sociedade Evangélica Beneficente (SEB), que foi a responsável pela construção do hospital.
Mas o sonho de ver a estrela brilhar no Bigorrilho demorou para acontecer. Em 1943, sete senhores evangélicos representantes das igrejas Metodista, Batista, Pres* biteriana e Congregacional se reuniram para discutir a formação de uma instituição de cunho beneficente, voltada ao atendimento médico-hospitalar. Era tempo da Segunda Guerra Mundial e Curitiba não dispunha de muitas opções para tratamento especializado de saúde. A ideia só foi concretizada 16 anos depois, quando eles conseguiram juntar a quantia em dinheiro necessária para a construção.
“Houve dificuldade na arrecadação dos recursos. Não afirmaria que sofremos preconceito porque a população era, majoritariamente, católica. Mas posso dizer que a liberdade religiosa hoje é bem diferente”, afirma o conselheiro da SEB pastor Avelino Ferreira.
As mulheres foram as que mais contribuíram para angariar recursos. Além de fazer o bolo, uma delas, a senhora Olinta Palmquist, bordou uma toalha com o nome dos 939 benfeitores – até hoje a peça é usada nos principais eventos do Hospital Evangélico.
O diretor-geral do Hospital Evangélico, Constantino Miguel Neto, foi o primeiro aluno da turma de Medicina da Faculdade Evangélica. Ele lembra da dificuldade, na época, para passar no vestibular. “A prova era discursiva. Havia muitos candidatos e poucas vagas. A Univer*sidade Federal tinha 120 vagas, mas passaram 200 alunos – era preciso tirar nota acima de quatro. Quando foi solicitado ao governo federal a abertura da Faculdade Evangélica, o critério para a liberação era de que os alunos excedentes da Federal deveriam fazer o curso lá. Sorte nossa”, conta.
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