Estradas de terra e o "rio de pedra"
Afonso Lange deu um relato ao Rotary Club de Ponta Grossa na década de 80 em que dá mais detalhes de como foi toda a aventura. Ele disse que, com a inauguração da estrada de ferro do Paraná, as vias que ligavam os municípios paranaenses estavam "abandonadas", com manutenção inexistente.
Além disso, os "carroções" eram presença frequente nas estradas da época. Com cargas que chegavam a 1,5 tonelada e sendo puxados por até 10 animais, eles deixavam o chão todo irregular – um convite para tombos.
De qualquer forma, na manhã de 23 de agosto de 1923, os Afonso e Ricardo partiram em suas motocicletas em direção a Curitiba. Os dois combinaram de manter uma certa distância um do outro para evitar a poeira que era levantada pelos extensos "areiões". Foi em um desses, inclusive, que Ricardo tomou um tombo, mas nada grave.
Afonso e Ricardo em suas respectivas motocicletas, prontos para a viagem
Depois do vilarejo de Palmeira, eles chegaram ao pior trecho da aventura: o "rio de pedras", uma estrada feita de pedras soltas que impedia um ritmo mais rápido da viagem devido ao terreno extremamente acidentado e instável.
O tombo na água e a chegada em Curitiba
Se não bastasse, ao chegar ao rio Papagaios, Ricardo acabou caindo com a sua moto dentro da água com o motor ligado. Afonso pulou para ajudar o amigo e também tirar a motocicleta de lá. Segundo Lange, foi o maior acidente de toda a excursão e colocou a aventura toda em risco, mas eles foram persistentes, consertaram a moto e seguiram viagem.
Com tudo de volta nos conformes, os dois paranaenses continuaram em direção à capital, que já contava com estradas bem melhores em seus arredores. Afonso e Ricardo passaram a noite em um hotel e, às seis da manhã do dia seguinte, botaram as motocicletas na estrada de novo, rumando para a icônica Estrada da Graciosa, famoso trecho tropeiro que ligava Curitiba ao litoral paranaense.
Lange desceu a serra com tranquilidade, parando para esperar Ricardo enquanto saboreava algumas bananas. O problema é que seu companheiro não chegava, e então ele resolveu verificar o que havia acontecido – para isso, precisou subir boa parte do trecho novamente, descobrindo que Ricardo havia ficado sem gasolina.
Precavido, Afonso carregava consigo um galão de combustível e salvou a viagem, mais uma vez.
Finalmente: Antonina – mas não livre de problemas
Toda a aventura resultou em um saboroso almoço na cidade de Antonina. A estadia, no entanto, foi breve, pois os dois decidiram voltar para Curitiba durante a tarde do mesmo dia. A volta foi sem grandes emoções, já que a dupla chegou à capital durante a noite, retornando para Ponta Grossa no dia seguinte.
Ao acordar, porém, uma tempestade caía sobre a cidade. O jeito foi colocar as motos em uma carroça e levá-las até a ferroviária curitibana para voltar de trem. Se você acha que a aventura acabou por aí, Afonso explica que o azar não havia terminado: a locomotiva que levava tanto Lange quanto Wagner descarrilou.
Mesmo assim, havia esperança: como a esposa do presidente do estado estava presente no mesmo trem, não demorou muito para que o tráfego fosse restabelecido. Os amigos ainda tiveram a oportunidade de sair da estação ferroviária em Ponta Grossa e retornar para casa em cima das motocas, dando fim à primeira grande viagem de motocicletas de que se tem registro no Brasil.
Incrível! Um paraíso a ser explorado, quantas novidades devem ter presenciando, muito legal o relato, viagem no tempo!
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